Sustentabilidade Fiscal

Fortaleza, como a oitava economia do Brasil e a maior do Nordeste, é uma metrópole com mais de 2,7 milhões de habitantes. Seu dinamismo é impulsionado, sobretudo, pelo setor de serviços, que representa aproximadamente 80% do PIB local.


Com forte vocação turística, sólida infraestrutura urbana e políticas públicas voltadas para áreas essenciais como saúde, mobilidade e educação básica, a capital cearense se firma como um polo regional de desenvolvimento e tem como desafios reduzir as desigualdades sociais que ainda marcam a cidade, evidenciando a urgência de políticas redistributivas sustentáveis e de uma gestão fiscal eficiente.


Neste cenário, o fortalecimento das receitas próprias ganha centralidade. Em especial, a arrecadação do Imposto Sobre Serviços (ISS) assume papel estratégico para garantir a autonomia financeira do município e viabilizar investimentos públicos.


Entre 2021 e 2024 o ISS apresentou crescimento médio anual de 16,7%, muito superior ao registrado pelo IPTU e ITBI no mesmo período. Esse desempenho revela não apenas a pujança do setor de serviços, mas também a importância de conhecer em profundidade quem são os maiores contribuintes desse tributo.


Com a classificação “C” no indicador CAPAG da Secretaria do Tesouro Nacional para 2025 – que indica fragilidade na capacidade de pagamento da cidade – torna-se ainda mais necessário compreender a estrutura da arrecadação local. A análise dos principais contribuintes do ISS, segmentada por ramo de atividade e por porte econômico, oferece subsídios valiosos para aprimorar a justiça fiscal, calibrar a política tributária e orientar estratégias de desenvolvimento mais equilibradas.


A seguir, esta análise busca identificar os maiores responsáveis pela arrecadação do ISS em Fortaleza, considerando tanto a relevância de cada setor quanto o perfil econômico das empresas, a fim de subsidiar políticas públicas mais eficazes e sustentáveis.


II – Maiores Recolhedores e Maiores Contribuintes do ISS


É essencial distinguir duas figuras centrais no âmbito do Imposto Sobre Serviços (ISS): o contribuinte e o recolhedor do tributo. Embora em muitos casos ambos coincidam, há situações específicas — previstas em lei — que separam o contribuinte, que é a pessoa física ou jurídica que presta o serviço tributável, nos termos da Lei Complementar nº 116/2003 e da legislação municipal, do recolhedor, que é aquele que fica responsável pelo pagamento do tributo ao fisco, ainda que não seja o prestador direto do serviço.


Para a cidade de Fortaleza as interseções do grupo de recolhedores e de contribuintes não seguem uma ordenação linear entre os maiores, mas nos segmentos as similaridades são evidentes, conforme detalhado a seguir:


10 Maiores Recolhedores

  1. Hapvida Assistência Medica
  2. Banco do Nordeste do Brasil
  3. Unimed Fortaleza
  4. Cagece
  5. Companhia Energética do Ceara
  6. Caixa Econômica Federal
  7. Fortbrasil Instit. de Pagamentos
  8. Almaviva Experience S.A.
  9. Concentrix Terc. de Processos
  10. Cma Terminals do Brasil

10 Maiores Contribuintes


  1. Hapvida Assistência Medica S.A.
  2. Unimed Fortaleza
  3. Cosampa Construções
  4. Cortez Engenharia
  5. Criart Serviços de Terc. de Mão-de-Obra
  6. Ecofor Ambiental S/A
  7. Fundação Edson Queiroz
  8. Fortal Terceirização de Mão-de-Obra
  9. Coop. de Trabalho Hospitalar - Coaph
  10. Unimed Ceará







Seja entre os recolhedores ou entre os contribuintes, os segmentos de Saúde, da Engenharia e Construção Civil e o Setor Financeiro respondem pelas maiores parcelas do ISS da cidade de Fortaleza. Dentre estes, Hapvida e Unimed na área de Saúde, Cosampa Construções e Cortez Engenharia e Banco do Nordeste Caixa Econômica Federal se destacam entre os 10 maiores.


Se intra-segmentos constata-se em alguns uma elevada concentração de receita de ISS advinda de poucos contribuintes, na análise inter-segmentos econômicos, a despeito de uma leve concentração em três segmentos – Saúde, Construção Civil e Instituições Financeiras -, a carteira do ISS da cidade de Fortaleza é bastante fragmentada: os três segmentos mencionados não representam, em conjunto, nem 30% do ISS Total arrecadado na cidade de Fortaleza, que em 2024 atingiu os R$1,44 bilhões, sendo em torno de 12% o maior market-share aferido a partir dos recolhimentos de ISS.


Ter uma receita de ISS (Imposto Sobre Serviços) diversificada entre diversos segmentos econômicos é essencial para a sustentabilidade fiscal de qualquer município. Em cidades como Fortaleza, cuja economia é fortemente baseada no setor de serviços, a diversificação da base arrecadatória atua como um mecanismo de proteção contra choques setoriais e instabilidades econômicas.


Quando a arrecadação de ISS está concentrada em poucos setores — como Saúde, Construção Civil ou Bancos — o município se torna vulnerável a crises específicas que afetem esses ramos. Por exemplo, durante a pandemia de COVID-19, cidades com forte dependência do turismo enfrentaram quedas bruscas de arrecadação. Da mesma forma, retrações no mercado imobiliário impactam diretamente a arrecadação advinda de serviços de engenharia e corretagem.


Ao diversificar suas fontes de ISS, o município reduz o risco de queda abrupta na receita em períodos de crise setorial e facilita o planejamento financeiro. Essa estabilidade é então fundamental para garantir a continuidade dos serviços públicos, o cumprimento de obrigações contratuais e o planejamento de investimentos de médio e longo prazo. Além disso, uma base tributária mais ampla contribui para maior justiça fiscal, diluindo o peso da arrecadação entre diferentes ramos da economia.


A diversificação do ISS de Fortaleza favorece ainda a identificação de novos setores dinâmicos e inovadores, como Tecnologia da Informação, Serviços Digitais e Economia Criativa, permitindo que o fisco municipal adapte sua legislação e fiscalização às transformações da economia.


Em resumo, ampliar e equilibrar a arrecadação do ISS entre diferentes segmentos é uma estratégia de gestão inteligente que fortalece a resiliência financeira da cidade e assegura maior previsibilidade para a política fiscal municipal.