Usina de hidrogênio verde da EDP Brasil confirmada para dezembro no Ceará

Com investimento de R$ 42 milhões, o empreendimento coloca o Estado como um dos pioneiros do novo segmento no mundo
14:28 | 09 de set de 2022 Autor: Anuário do Ceará
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Demandas como a da CSP e de cimenteiras instaladas no Pecém são observadas pela EDP como oportunidade de negócio para a usina de H2V

A expectativa para o início da
usina de hidrogênio verde (H2V) da EDP Brasil projetada para o Ceará foi confirmada. A operação efetiva da planta piloto será mesmo em dezembro deste ano.

A confirmação da inauguração é de Izolda Cela (sem partido), governadora
do Estado, e Maia Júnior, secretário do Desenvolvimento Econômico e Trabalho, ao O POVO.

O equipamento fará a
produção industrial da primeira molécula de H2V do País. Com investimento de R$ 42 milhões, o empreendimento coloca o Estado como um dos pioneiros deste novo segmento no mundo, pois representa o início do hub de hidrogênio verde do Estado.

Mesmo de porte pequeno, a usina batizada de Pecém H2V vai ancorar e servir de exemplo para os
projetos de hidrogênio verde já planejados para o Estado, além de ser mais um avanço da empresa na meta de se tornar 100% verde até 2030 – hoje, possui 75% dos ativos em renováveis.

Estrutura e envolvidos no projeto

O projeto da Pecém H2V prevê a geração de 22,3 quilos por hora de hidrogênio (kg/h) – ou 250 metros cúbicos normais por hora (Nm³/h) – a partir de uma planta de eletrólise (processo pelo qual o hidrogênio é extraído da molécula de água com a utilização de energia) de 1,25 megawatts (MW).

Uma usina fotovoltaica de capacidade instalada de 3 MW terá dedicação exclusiva para alimentar o eletrolisador.

São equipamentos que contam com mais três empresas envolvidas, além da própria EDP Brasil. Sob a responsabilidade da idealizadora do projeto estão a construção da usina solar e a conexão dela à UTE Pecém – a térmica a carvão operada pela EDP no Complexo do Pecém.

A fornecedora para a eletrólise será a Hytron, empresa fundada em 2003 como spin-off
da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

O Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação (Iati), com sede em Recife (PE), deve desenvolver o sistema de controle de chama para aplicações industriais, a avaliação de equipamento de armazenamento de H2 com tecnologia mais leve e resistente, o índice de avaliação energética e um respectivo Selo de Sustentabilidade.

Já o Grupo de Estudos do Setor Elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Geisel/UFRJ) irá conferir a viabilidade econômica e mercadológica a partir de uma plataforma de simulação para avaliação de cenários da escalabilidade da produção de H2 e um novo modelo de negócio com abrangência e expansão do mercado de H2 nacional e internacional.

Do montante previsto, a estratégia de investimento da companhia estima a maior parte da aplicação (26,6%) em pesquisa e desenvolvimento, enquanto o Capex EDP é de 14,7% e os 1% restantes devem ser adquiridos em contrapartida das executoras.

Uso do hidrogênio verde

Os 22 quilos por hora de capacidade de produção de hidrogênio dos quais a Pecém H2V vai contar devem atender, segundo projeções da EDP Brasil a que O POVO teve acesso, a demandas existentes de empresas do Complexo Industrial e Portuário do Pecém e exportação, inicialmente.

No entanto, uma ampliação da produção é considerada para maio de 2024.

A empresa considera que "o H2 (hidrogênio) será a nova commodity energética mundial, substituindo a posição do petróleo" e diz "desenvolver um roadmap com análise de Cenários 1, 10, 100 e 1000 MW na produção de gás H2".

O objetivo da estratégia de negócios da companhia é "produzir a primeira molécula de H2 verde do hub do Pecém até dezembro de 2022".

Em maio de 2024, a empresa desenha a possibilidade de "alternativas de expansão do projeto piloto". O mês marca atividades importantes dentro do cronograma revelado pela EDP, como "aprimoramento do processo de geração de energia verde - construção de planta solar" e a "ampliação dos tipos de uso do H2 - novos usos".

As demandas ainda são mapeadas no estudo de oportunidades em elaboração pela empresa, mas as frentes tecnológicas já sinalizam um fornecimento de H2V para, ao menos, três possibilidades: co-queima do carvão mineral na UTE Pecém - de propriedade da própria EDP -, o uso industrial em indústrias cimenteiras e siderúrgicas combinado com combustíveis convencionais e a exportação para outras partes do mundo.

Dentro do que a EDP Brasil nomeou de "rotas tecnológicas para a proposta do projeto", essas possibilidades já são idealizadas sobre mercados consistentes.

A usina termelétrica da empresa, por exemplo, tem a operação garantida até 2027. Depois disso, sem novos leilões federais de energia nos quais a geração a carvão seja apoiada, a usina perde a utilidade.

O interesse de diminuir a participação no capital do empreendimento já foi externado, mas os executivos sabem que desmobilizar ou converter aqueles equipamentos para outra fonte será um custo muito elevado e que torna o negócio pouco atrativo.

O atendimento a cimenteiras e siderúrgicas já sugere a oferta de hidrogênio verde para as indústrias deste tipo instaladas no Complexo do Pecém.

A Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), por exemplo, também conta com uma térmica a carvão no seu parque industrial e, dado o posicionamento do Governo Federal de não renovar licenças para este tipo de geração, logo precisará rever a operação.

Já a exportação de H2V é a mais segura das apostas para os produtores na análise de especialistas.

As metas de carbono zero estabelecidas pela Europa aliadas à crise do fornecimento de gás natural naquele continente após a invasão da Ucrânia pela Rússia reforçaram a necessidade de uma mudança na matriz energética e, principalmente, no fornecedor do insumo.

Ou seja, os europeus têm urgência em substituir o gás natural pelo H2V, assim como Rússia deve dar lugar a outro fornecedor, como o Brasil.
(Com Armando de Oliveira Lima)