Senador Pompeu organiza romaria pelos mortos no Campo de Concentração do Patu

Programação reverencia a memória dos retirantes presos e mortos durante a seca de 1932
16:19 | 31 de out de 2022 Autor: Anuário do Ceará
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No próximo dia 13 de novembro, a cidade de Senador Pompeu, a 265 km de Fortaleza, espera milhares de romeiros em memória aos mortos no Campo de Concentração do Patu. Seguindo a tradição, a Caminhada da Seca sairá da Igreja Matriz às 4h30min.

Após o percurso de cerca de 3 km, haverá uma missa em frente ao cemitério simbólico ao lado do Açude do Patu.

Na semana que antecede a caminhada, diversas atividades estão previstas para acontecer no município: apresentações teatrais, shows musicais, feiras, exibição de vídeos, seminários, exposições artísticas e celebrações eucarísticas.

Senador Pompeu é o único município do Ceará que mantém viva a memória do campo de concentração da seca de 1932. Naquele ano, os casarões inacabados e os galpões da barragem do Açude Patu foram usados pelo Governo estadual para a implantação de um dos sete campos de concentração da seca.

A memória está viva também no imaginário coletivo de devoção e fé nas santas almas da barragem, tornando a Caminhada da Seca um patrimônio imaterial de cunho religioso e histórico.

Durante a seca, os mortos de fome e doença eram enterrados em valas. Não é certo o número de sedentos e esfomeados mortos. Uns cravam 1.637, outros estimam de quatro mil a dez mil óbitos.

Com o tempo e o crescimento da religiosidade popular, um cemitério simbólico foi construído em homenagem às santas almas. Desde 1982, em todo segundo domingo de novembro, o credo converge para o cemitério da barragem. O local é o ponto final da caminhada.

O Centro de Defesa dos Direitos Humanos Antônio Conselheiro (CDDH-AC), um dos organizadores do evento, aponta que esta edição da caminhada segue o tema “Seguindo em Caminhada pelo Bem Viver no Semiárido - Pela Preservação do Patrimônio Cultural”.

Dentre as pautas, estão: segurança hídrica e alimentar, terra para viver e produzir, educação de qualidade, segurança, moradia digna e cultura.

“O ano de 2022 é um ano marcante para a história de Senador Pompeu, são 90 anos do campo de concentração, 100 anos da construção dos casarões da barragem, 40 anos da caminhada da seca e a conquista do tombamento do Sítio Histórico do Patu como patrimônio cultural do Estado do Ceará”, enfatiza o CDDH-AC, em nota.

Campos de concentração da Seca de 1932 no Ceará

O campo de concentração de Senador Pompeu, o Patu, é o único registro de memória edificada do gênero no Ceará. Intensificados a partir de 1915, os campos de concentração no território cearense foram utilizados para controlar um contingente de retirantes e garantir, como política assistencialista nas secas, mão de obra barata para construções nas cidades e manutenção da ordem pública.

No Patu, segundo matéria publicada pelo O POVO em 30 de junho de 1932, estiveram concentrados 16.221 retirantes. É como se, considerando a população atual do município, seis a cada dez senadorenses tivessem de viver nos prédios não terminados e nos abarracamentos.

Em março deste ano, O POVO relembrou a histórica cobertura em uma série de reportagens especiais que abordou a origem dos sete campos de concentração criados no Ceará para socorrer os flagelados da seca de 1932.

Caminhada da Seca

Meio século após a seca de 1932, que marcou a história cearense, o padre Albino Donatti organizou a primeira Caminhada da Seca. Ao perceber a devoção e fé das pessoas da comunidade para com as Almas da Barragem, chamou os paroquianos a fazerem uma caminhada até o cemitério da barragem e realizou uma celebração no cemitério simbólico do local.

A partir dessa iniciativa nasceu a tradição da romaria, que acontece todo segundo domingo de novembro. Em 2021, a Caminhada da Seca entrou para o roteiro turístico, religioso e cultural do Ceará.

Caminhada da Seca 2022

Local: Concentração na Igreja Matriz de Senador Pompeu (R. Bernardo Cavalcante, 32)

Data: 13 de novembro de 2022, a partir das 4h30min