Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) completa 75 anos de atuação em um cenário de profundas mudanças nos modelos produtivos e no mundo do trabalho, como a transição energética e a transformação digital, com desafios no aspecto competitivo e na sustentabilidade.
Fundada em 1950 para representar os interesses da indústria local, a entidade focou no acompanhamento das mudanças econômicas, políticas e tecnológicas do País, ampliando sua atuação para além da representação sindical.
Além do papel institucional, a Fiec passou a contar com estruturas voltadas à formação técnica, à educação básica e à inserção de jovens no mercado de trabalho, por meio do Serviço Social da Indústria do Ceará (Sesi-CE), do Serviço Nacional de Aprendizagem (Senai-CE) e do Instituto Euvaldo Lodi do Ceará (IEL-CE). Ao longo desses anos, essas frentes ganharam complexidade.
Esse movimento ficou evidente durante a pandemia de covid-19, quando a Federação atuou no desenvolvimento e na produção do capacete Elmo, equipamento de respiração assistida que ajudou a reduzir a necessidade de intubação em pacientes com a infecção respiratória aguda.
O presidente da Federação, Ricardo Cavalcante, , eleito para o período de 2019 a 2027, avalia que, ao longo dos anos, houve evolução coerente com as mudanças da legislação, do mercado e da cultura vigente.
"Suas principais casas – Sesi, Senai e IEL – foram ganhando corpo em sintonia com a evolução das demandas das indústrias e da sociedade".
Em relação a esse tripé, o presidente destaca a atuação do Sesi na área da educação básica atendendo a crianças, adolescentes e adultos. São seis escolas, com mais de 6.500 alunos matriculados, que oferecem da educação infantil ao ensino médio.
O Senai se soma com os cursos técnicos e de qualificação profissional, que abrangem áreas como energias renováveis, distribuição de energia, hidrogênio verde, automação industrial, dentre outros.
"Sempre atento às tendências de mercado, firmamos parcerias com importantes empresas do setor de energia, oferecendo cursos de reparação de pás eólicas, e a certificação internacional Global Wind Organisation, que define padrões internacionais para a segurança na indústria eólica, visando capacitar profissionais para trabalhar de forma segura com redução de riscos".
Sobre o IEL, o presidente afirma que o órgão tem se destacado ao oferecer programas de estágio e trainee, que conectam universitários às empresas industriais.
Ao tempo em que o Ceará apostou na captação de novos investimentos, muito em função de uma política de incentivos fiscais praticada pelo Governo estadual a partir do fim dos anos 1980 e começo da década de 1990, a indústria cearense ganhou mais musculatura. Na sequência, com a operação do Porto do Pecém, veio a consolidação do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp), o que ampliou a inserção internacional do Estado.
Uma jornada que uniu Governo e Fiec, com a participação, em alguma medida, também da Academia. "Além de render frutos de curto prazo, gera impactos na continuidade de políticas de Estado, que beneficiam a educação, melhoram o ambiente de negócios e promovem o avanço da inovação, fatores que fortalecem a atração de novos investimentos", diz Ricardo.
Na agenda, entre os setores com maior potencial de crescimento, as energias renováveis se destacam, especialmente com a expansão do hidrogênio verde (H2V). Ao todo, os investimentos anunciados passam de mais de US$ 30 bilhões até 2031, podendo propiciar 80 mil empregos em toda a cadeia produtiva.
"A nova indústria destaca-se não só por ser tecnológica, com potencial de incrementar a produtividade para toda a cadeia, como também por ser instrumento importante no alcance das metas mundiais de descarbonização e de transição energética. Somado a isso, a instalação da planta industrial do H2V possibilita ainda impulsionar toda a matriz energética renovável já instalada em território cearense", festeja o presidente.
Mais recentemente, a emersão do conceito ESG (sigla, em inglês, para Environmental, Social and Governance - Ambiental, Social e Governança) exigiu que a sustentabilidade esteja no centro das ações da Fiec. Daí, além da transição energética, a Federação tomou a frente em iniciativas voltadas à implementação de práticas ESG nas indústrias cearenses.
Uma ação adotada foi o Programa de Certificação ESG-Fiec, lançado em 2022, que tem como objetivo guiar os setores industriais nos projetos de sustentabilidade. As empresas são analisadas pelo organismo internacional Bureau Veritas (BV). "Com isso, garantimos que, ao receber o Selo ESG-Fiec, as empresas cearenses estejam certificadas como indústria sustentável segundo critérios validados no mundo inteiro", destaca Ricardo.
Ele conta que há um trabalho de sensibilização das indústrias. "Quando a empresa se inscreve para participar do programa, ela passa a receber um assessoramento técnico que acompanha todo o passo a passo do processo de certificação, o que inclui também uma palestra aos colaboradores da empresa".
Na linha dos desafios, o setor enfrenta situações bem relevantes. O presidente da Fiec cita um punhado deles: aumento do custo das matérias-primas, a carga tributária, a falta de trabalhadores qualificados e a alta taxa de juros.
Em relação aos obstáculos estruturais, ele destaca a desindustrialização precoce na economia brasileira. “Desacelera o avanço tecnológico e intensifica a dependência de commodities. Acrescente-se a isso a distância para os principais mercados consumidores e a dificuldade de acesso a crédito, e teremos um quadro que merece atenção constante”.
Para ir além do lamento, Ricardo enxerga uma transformação digital a acontecer. Uma necessidade para agilizar operações, aprimorar produtos, reduzir custos e fortalecer a capacidade produtiva. “Entre as diversas iniciativas tomadas, podemos destacar algumas recentes, como a implantação de centros de treinamento, o acordo de cooperação com o ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica) e as capacitações realizadas em parceria com grandes montadoras nacionais e internacionais, preparando profissionais para o uso de novas tecnologias e outras oportunidades futuras”.
O Observatório da Indústria, órgão vinculado à Fiec, tem se consolidado como uma plataforma de inteligência estratégica voltada para o fortalecimento do setor produtivo.
Por meio de dados, estudos e análises, o Observatório atua em três frentes interligadas. A Inteligência em Dados traduz um vasto universo de informações em conhecimento acionável, por meio de plataformas interativas e inteligência artificial. A Prospectiva e Cooperação Estratégica projeta cenários de longo prazo e constrói estratégias alinhadas às mudanças tecnológicas e econômicas, preparando a indústria para o futuro. Já a Inteligência Competitiva monitora mercados, analisa concorrentes e identifica tendências, fornecendo insights estratégicos para que empresas se posicionem com assertividade.
São 15 dashboards (painéis) capazes de identificar dados sobre recursos hídricos disponíveis, mapeamento de formação e perfil da mão de obra do Ceará, energia, perfil dos municípios cearense, diferença salarial entre gêneros, dentre outras questões.
"Nosso propósito é claro: aplicar conhecimento e conectar pessoas com soluções inteligentes que transformem a sociedade e os negócios do futuro", reforça Guilherme Muchale, gerente do Observatório da Indústria e economista-chefe da Fiec.
Ele explica que, ao longo dos anos, as análises e os estudos desenvolvidos dentro da iniciativa impactaram decisões estratégicas tanto no setor público quanto privado, como a identificação de vocações industriais para a atração de investimentos, a construção de roadmaps setoriais e o redesenho de políticas voltadas à formação profissional para os empregos do futuro.
Em relação ao público-alvo do Observatório, Guilherme destaca que o trabalho não é limitado às grandes indústrias, mas também há desenvolvimento de soluções para pequenas e médias empresas que buscam tomar decisões assertivas, baseadas em dados.
Em 2020, por exemplo, o Observatório firmou um acordo de cooperação técnica com a Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do então Ministério da Economia (Sepec-ME), hoje Ministério da Fazenda, com o objetivo de desenvolver um projeto conjunto para monitoramento e redução do Custo Brasil.
"Nossos dashboards, relatórios e atendimentos especializados são construídos justamente para democratizar o acesso à inteligência estratégica, adaptando a complexidade dos dados à realidade de cada negócio".
Hoje, o projeto atende 14 setores industriais estratégicos, como alimentos e bebidas, confecções, energias renováveis, construção civil e economia do mar. "Fazemos isso por meio de uma equipe multidisciplinar de alto nível, unindo competências diversas que se complementam na análise de dados complexos e na formulação de soluções integradas".
Outra questão são as parcerias estratégicas que ampliam seu alcance e impacto no setor industrial. Guilherme elenca para as colaborações com sindicatos, federações, diversas entidades do Sistema S (conjunto de nove serviços sociais autônomos de interesses de categorias profissionais, estabelecidas pela Constituição brasileira).
"Empresas que se conectam ao Observatório ganham acesso a uma estrutura robusta de apoio à decisão, capaz de antecipar riscos, revelar oportunidades e orientar estratégias de crescimento. Mais do que dados, entregamos inteligência com propósito e ação".
Um exemplo significativo é a parceria firmada entre o Grupo de Comunicação O POVO e a Fiec. Em novembro de 2024, os dois setores firmaram um acordo de cooperação técnica que visa à produção de reportagens jornalísticas a partir de estudos e análises exclusivas produzidas pelo Observatório da Indústria, referentes a diversos segmentos econômicos, nas esferas estadual, nacional e mundial.
À época da assinatura do acordo, a presidente institucional e publisher do O POVO, Luciana Dummar, destacou o rico conteúdo produzido do Observatório para o Estado.
“Eu visitei o observatório e fiquei impressionada com aquela potência. Ao ver toda aquela riqueza de informações, imediatamente pensei em como poderíamos transformar esses dados em conteúdos acessíveis para toda a sociedade. Assim, colocamos nossas equipes para trabalharem juntas e fazer esse acordo de cooperação”, disse Luciana.
Olhando para o futuro, Guilherme destaca que o Observatório da Indústria visualiza sua evolução como um ecossistema de inteligência colaborativa, que, ao longo dos próximos 25 anos, se consolidará como uma referência tanto no Brasil quanto internacionalmente.
“Queremos ser não apenas um centro de análise, mas um espaço de cocriação de soluções, onde empresas, governo e academia construam juntos os caminhos para um futuro mais inovador, competitivo e sustentável”.
A inovação e a transição energética são peças-chave para o desenvolvimento sustentável e a competitividade industrial. À medida que o mundo avança para um modelo de produção mais eficiente e ambientalmente responsável, torna-se essencial investir em tecnologia, pesquisa e capacitação profissional.
No Brasil, esse movimento ganha força com iniciativas que promovem o uso de energias renováveis, a modernização dos processos industriais e a formação de profissionais qualificados para atuar nesse novo cenário.
No Ceará, a Fiec tem se destacado nesse processo, liderando iniciativas voltadas à inovação e à energia sustentável. Por meio de programas e parcerias estratégicas, a entidade impulsiona a modernização do setor produtivo, incentivando a pesquisa e a adoção de novas tecnologias que tornam a indústria mais eficiente e preparada para os desafios do futuro.
Para o gerente de desenvolvimento sustentável da Fiec, Joaquim Rolim, a posição de destaque do Estado tem sido construída ao longo de várias décadas.
Alguns feitos como o primeiro Atlas Eólico do Brasil, criado nos anos 2000, as rotas estratégicas de energia, fundadas em 2015, e o primeiro Atlas Eólico e Solar digital e interativo do Brasil são marcos lembrados pelo gerente de desenvolvimento.
"A indústria cearense esteve sempre presente nestes grandes momentos e deverá continuar nos próximos anos, por meio do entusiasmo e da competência espelhados pelo presidente da Fiec, Ricardo Cavalcante. As ações conjuntas do governo do Estado, setor produtivo e academia, como tem ocorrido no Ceará ao longo de toda essa trajetória, têm sido fundamentais para essa pujança toda relatada, e há muito mais por vir", afirma.
Em relação ao apoio da Fiec voltado às indústrias locais, Joaquim elenca uma série de projetos implementados.
Um deles é o Centro de Excelência em Transição Energética Jurandir Picanço. Inaugurada em março de 2024, a iniciativa mira a formação de profissionais para atuar no segmento de energias renováveis.
Outro investimento são os 283 laboratórios ativos e o apoio a 54 projetos de inovação por meio do Instituto Senai de Tecnologia. Ele explica que são oferecidas consultorias e pesquisas que impulsionam a modernização e sustentabilidade da indústria local.
Contudo, a transição energética no Ceará não se limita apenas à modernização da indústria e ao uso de fontes renováveis já consolidadas, como a fotovoltaica e a eólica. O Estado também avança na estruturação de um novo mercado estratégico: o hidrogênio verde (H2V).
Considerado uma das apostas globais para a descarbonização da economia, o hidrogênio verde vem ganhando espaço como alternativa viável para a diversificação da matriz energética e a redução das emissões industriais.
Neste cenário, a Fiec age como facilitadora. A estratégia é atuar para conectar empresas às oportunidades desse mercado emergente, estimulando investimentos, desenvolvendo estratégias para a qualificação da mão de obra e promovendo parcerias que viabilizem a produção e exportação de combustível sustentável.
Uma dessas iniciativas voltada para o segmento, foi a criação do Masterplan do Hidrogênio Verde no Ceará em parceria com o Governo do Estado. O objetivo é mapear oportunidades na cadeia produtiva e a infraestrutura necessária para a produção de H2V.
Joaquim destaca que o documento ajuda a atrair investidores, visto que há um fornecimento de dados e análises detalhadas que demonstram a viabilidade econômica do setor, a competitividade da energia cearense e o impacto positivo em termos de geração de empregos e desenvolvimento econômico.
"As universidades locais estão trabalhando atrás da Rede Verdes, desenvolvida pelo Governo do Estado. Tudo isso somado com a implantação de unidade local do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), que deverá ser mais um marco relevante para o Ceará", projeta Joaquim.
O campus do ITA funcionará na Base Aérea de Fortaleza e tem previsão para formação de turmas e início dos primeiros cursos em 2027. O Governo Federal prevê um investimento de R$ 180 milhões nas obras do novo ITA.
Para os próximos anos, Joaquim analisa que há um cenário promissor: a indústria do Ceará e do Nordeste com emissão líquida zero de gases de efeito estufa, a exportação de produtos com elevado valor agregado, um setor energético e elétrico 100% sustentável, tudo isso somado ao pleno emprego.
"Inovação é investir nas pessoas. Investir nas pessoas é inovador, porque a inovação é constante. Inovar é investir nas pessoas por meio da educação". É assim que Paulo André Holanda, diretor regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial do Ceará (Senai-CE) e superintendente do Serviço Social da Indústria do Ceará (Sesi-CE), define o caminho para melhorar a qualidade de vida da população.
Para ele, o desenvolvimento social e econômico passa, inevitavelmente, pela qualificação profissional e pelo acesso à educação. "O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) tem três fatores principais: educação, renda e saúde. Quanto mais alto esse índice, melhor a qualidade de vida da população. E o Sesi, o Senai e o IEL atuam principalmente nesses três pilares do IDH. A Federação, portanto, tem um papel crucial na melhoria desses indicadores, seja em um bairro, em um estado ou no país como um todo", afirma Paulo.
Ele exemplifica que quando a população tem acesso a uma educação de qualidade e a uma formação profissional eficiente, como a oferecida pelo Senai, há um aumento nas oportunidades de trabalho e na geração de renda.
Um modelo que pode ser usado de exemplo são os cursos técnicos voltados para capacitar profissionais do setor automotivo. Existente há quase 30 anos, e localizado na Barra do Ceará, o Senai tem parceria com 14 montadoras, dentre as quais a Yamaha, a Renault, a Mitsubishi e a Toyota, para qualificar e formar técnicos especializados neste segmento. De 2019 a 2024, 7.600 pessoas foram formadas.
"Essa parceria é rara no Brasil, e somos referência no Nordeste, não apenas no setor automotivo, mas também em motos e caminhões. Atualmente, estamos ampliando o programa para capacitação em carros elétricos e híbridos", explica.
As iniciativas do Senai e do Sesi também chegam ao campo social. Por meio da Fiec, o Senai-CE oferece capacitação na Casa da Mulher Brasileira, iniciativa que dá atendimento integral e humanizado para vítimas de violência doméstica.
Outro ponto importante a ser citado é o "Projeto Sou Capaz", um programa de qualificação profissional para internos de mais de 16 unidades prisionais do Estado. O projeto é uma parceria do Senai-CE e da Secretaria da Administração Penitenciária e Ressocialização (SAP) e oferece formação para os segmentos de energia, vestuário, refrigeração, construção civil, alimentos, soldagem, marcenaria e automotivo. Em março de 2023, foram 23 mil internos capacitados pela iniciativa.
O Senai mediu o impacto. As ações permitiram reduzir a reincidência criminal (quando alguém comete um novo crime após ter sido condenado por um crime anterior) no Estado.
"Antes, no Ceará, cerca de 78% dos egressos do sistema prisional reincidiram em menos de dois anos. Hoje, essa taxa caiu para 70%. Esses são dados oficiais da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP)”. Paulo pergunta: “O que isso significa?” E responde: “Que a qualificação profissional feita dentro dos presídios, por meio do Senai e do Sesi, teve um impacto direto na redução da reincidência criminal. O Senai entrou com cursos de capacitação profissional, enquanto o Sesi trouxe a Educação de Jovens e Adultos (EJA)”.
O trabalho conjunto demonstrou, segundo ele, que educação, emprego e renda estão diretamente relacionados à redução da criminalidade.
Paulo diz que as iniciativas realizadas comprovam que o futuro passa, pela educação em todos os níveis. "Não adianta apenas investir em máquinas e computadores potentes se não houver pessoas qualificadas para operá-los. O foco precisa ser o investimento no ser humano".
Ele é entusiasta da ideia de que a senha para o País melhorar a qualidade de vida é educação e qualificação. "Não basta ter um PIB alto. Se um país tem um PIB elevado, mas, quando analisamos o IDH e o coeficiente de Gini, percebemos que há desigualdade, significa que a riqueza não está bem distribuída".
Nos últimos cinco anos, cerca de 48 mil jovens e 14 mil empresas participaram de programas de estágio e aprendizagem por meio do Instituto Euvaldo Lodi do Ceará (IEL-CE), vinculado à Fiec. A instituição, criada em 30 de setembro de 1971, atua na formação de estudantes e no suporte à modernização do setor produtivo, com foco em gestão, inovação e desenvolvimento profissional.
Entre os programas ofertados, destaca-se o de Orientação de Carreira, voltado para estudantes do ensino médio.
O projeto é aplicado por meio da Escala de Maturidade para Escolha Profissional (Emep), um teste psicológico que avalia habilidades e conhecimentos essenciais para uma escolha profissional assertiva, explica Dana Nunes, superintendente do IEL Ceará.
Dana afirma que todos os projetos utilizam métricas estratégicas para mensurar os resultados. “Acreditamos que ‘o que não é medido, não pode ser gerenciado’. Os dados coletados auxiliam na tomada de decisões e na melhoria contínua dos nossos serviços”.
“Há casos de estagiários que iniciaram suas trajetórias no IEL-CE e conseguiram construir carreiras sólidas dentro da própria instituição. Sem falar que temos uma atuação muito forte quando se trata em qualificação, principalmente para a gestão”, exemplifica a superintendente.
Em relação ao avanço da inteligência artificial e da automação, o Instituto também acompanha as mudanças nos setores. Dana destaca que o IEL Ceará atua no desenvolvimento de habilidades comportamentais e na disseminação de conteúdos que visam incentivar as pessoas a buscarem o protagonismo dentro das carreiras e organizações.
“Temos hoje um corpo técnico altamente capacitado para acompanhar essas transformações e ajudar as empresas e pessoas diversas na sua jornada profissional e na implantação de novas ferramentas”.
Dentro das empresas, são aplicados programas de desenvolvimento de líderes, que busca capacitar gestores para enfrentar possíveis desafios futuramente. Além disso, a superintendente reforça que há oferecimento dentro de cursos atualizados e consultorias, com foco em inovação e nas principais tendências do mercado.
Em contrapartida, questões como a desigualdade econômica presente no Estado podem dificultar o acesso a esses caminhos. Por causa disso, além das competências técnicas, há investimento no desenvolvimento de habilidades comportamentais. “Acreditamos que a qualificação profissional é uma ferramenta essencial para reduzir desigualdades e impulsionar o desenvolvimento econômico”, diz Dana.
Outro recurso aplicado são os programas sociais que promovem inclusão e capacitação para públicos em situação de vulnerabilidade, como é o caso do programa Geração Tech, um projeto do IEL e o do Governo do Estado, por meio da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece).
É uma iniciativa que capacita gratuitamente jovens para atuarem na área de tecnologia no Ceará, atendendo à crescente demanda do mercado e impulsionando a empregabilidade. Não fica restrito apenas à Capital. O IEL Ceará já atua em diversas regiões do Estado, e por meio da parceria com o IEL Nacional, há uma ampliação do acesso. A propósito, os cursos remotos permitem que profissionais de qualquer parte do País tenham acesso. Há também palestras gratuitas sobre empregabilidade e carreiras. São destinadas a públicos diversos.
Nos últimos 75 anos, a história do Ceará mostra que o crescimento econômico não veio de uma única frente, mas da interseção entre diferentes atores e iniciativas. Entre esses elementos, destaca-se a articulação entre o setor industrial, a academia e o poder público, em um processo que teve como base experiências acumuladas ao longo das décadas e nomes que ajudaram a moldar o perfil produtivo do Estado.
Tomás Pompeu de Sousa Brasil Netto, por exemplo, teve influência nacional no setor têxtil, atuando dentro do que viria a ser a Federação Nacional da Indústria. Outro nome é o de Delmiro Gouveia, nascido na cidade de Ipu, no interior do Ceará, e reconhecido como um dos pioneiros da industrialização no Brasil.
Esses nomes são relembrados por Célio Fernando Bezerra Melo, economista e membro da Academia Cearense de Economia, além de ser diretor da Astor BFA e consultor editorial do Anuário do Ceará. “Acredito que há (no Ceará) um espírito cultural de grandes lideranças”.
Esse espírito de liderança também se manifesta nos grandes grupos empresariais que nasceram no Ceará e ultrapassaram as fronteiras do Estado. Empresas como o Grupo J. Macêdo, com sua longa trajetória na indústria de alimentos, e o Grupo M. Dias Branco, fundado em 1953 e que desde os anos 1990 vem expandindo sua atuação pela América Latina, são exemplos de como o setor industrial cearense não se limita ao mercado local. “Isso mostra a força da indústria de alimentos no Ceará”, ressalta Célio Fernando.
Outro exemplo citado pelo economista é o Grupo Três Corações, que consolidou sua presença no mercado nacional, evidenciando o peso da indústria alimentícia cearense na economia do País.
“Isso demonstra a pujança da indústria de alimentos no Ceará, que não se restringe ao PIB local, mas tem impacto nacional, gerando milhares de empregos no Brasil e na América Latina”. Na interface com a política enumera nomes da história recente do Ceará na política nacional. Cita Tasso Jereissati, Camilo Santana e Ciro Gomes.
Para ele, a vocação para formar líderes é essencial, pois se reflete na discussão de políticas públicas estratégicas para o País, incluindo a reindustrialização e a sustentabilidade, agendas conduzidas hoje pelo vice-presidente da República Geraldo Alckmin, ex-tucano e hoje no PSB.
Esses avanços no Ceará ocorrem em meio a mudanças mais amplas no Nordeste, uma região que ainda convive com desigualdades, mas que também tem buscado se inserir em novas dinâmicas econômicas e tecnológicas.
Célio explica que, considerando o tamanho do Ceará e o bioma da Caatinga, uma região historicamente marcada por dificuldades, as adversidades possam agora se transformar em vantagens competitivas globais. O setor de energia fotovoltaica, por exemplo, cresce rapidamente, aproveitando o alto índice de radiação solar da região. “Aquilo que antes era visto como fraqueza pode se tornar uma grande oportunidade”, aponta.
“A indústria do Ceará é inovadora. Quando você vai para o Sesi, que tem como diretor o Paulo André Holanda, filho do engenheiro civil (e ex-deputado federal) Ariosto Holanda, quer dizer, de um berço fantástico, sobre ciência, tecnologia e inovação, e com laboratórios de alto nível. Temos também o Laboratório Jurandir Picanço, nosso grande coordenador de energia, ex-presidente da Coelce nos anos 1990”.
Por outro lado, apesar dos inúmeros avanços, Célio alerta para um fator ainda bastante presente na sociedade brasileira: a desigualdade social. “Falar em transformação digital e transição energética justa é essencial. Mas de nada adianta criar esse desenvolvimento se não houver políticas para redução das desigualdades. E a Fiec já faz isso muito bem. Ela discute o conceito de transição justa, aborda ESG, e, nos últimos tempos,, tem demonstrado conscientização crescente sobre governança social e ambiental”.
Para os próximos 25 anos, Célio ressalta a necessidade da chamada neoindustrialização para a região. “O Nordeste precisa disso. Não basta apenas termos energias renováveis; precisamos ser protagonistas desse setor. Isso pode se concretizar nos próximos 25 anos”.
É sobre o futuro.